O visitante estranhou porque, quando o levaram para conhecer a sala de aula do futuro, não havia uma professora – robô, mas duas. A única diferença entre as duas era que uma era feita totalmente de plástico e fibra de vidro – fora, claro, a tela do seu visor e seus componentes eletrônicos – e a outra era acolchoada. Uma falava com as crianças com sua voz metálica e mostrava figuras, números e cenas coloridas no seu visor, e a outra ficava quieta num canto. Uma comandava a sala, tinha resposta para tudo e centralizava a atenção dos alunos, que pareciam conviver muito bem com a sua presença dinâmica, a outra dava a impressão de estar esquecida ali, como uma experiência errada.
O visitante acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador tivesse substituído o professor. O entendimento entre a máquina e as crianças era perfeito. A máquina falava com clareza e estava programada de acordo com métodos pedagógicos cientificamente testados durante anos. Quando não entendiam qualquer soisa as crianças sabiam exatamente que botões apertar pra que a professora – robô repetisse a lição ou, em rápidos segundos, a reformulasse, para melhor compreensão ( As crianças do futuro já nasceram sabendo que botões apertar).
- Fantático – comentou o visitante
- não é? – concordou o técnico, sorrindo com satisfação.
Foi quando uma das crianças, errando o botão, ´rendeu o dedo no teclado da professora – robô. Nada grave. O teclado tinha sido cientificamente preparado para não oferecer qualçquer risco aos dedos infantis. Mesmo assim, doeu, e a criança começou a chorar. Ao captar o som do choro nos seus sensores, a professora – robô desligou-se automaticamente. Exatamente, ao mesmo tempo, o outro robô acendeu-se automaticamente. Dirigiu-se para a criança que chorava e a pegou no colo acolchoado e dizendo palavras de carinho e conforto numa voz parecida com a do outro, só que menos metálica. Passada a crise, a criança, consolada e reestabelecida, foi colocada no chão e retomou seu lugar entre as outras. A segunda professora – robô voltou para o seu canto e se desligou enqunto a primeira voltou a vida e à aula.
_ Fantástico – repetiu o visitante.
_ Não é – concordou o técnico, ainda mais satisfeito
_ Mas me diga uma coisa... – começou a dizer o visitante.
_ Sim?
_ Se entendi bem, o segundo robô só existe para fazer a parte mais digamos, maternal do trabalho pedagógico, enquanto o primeiro faz a parte técnica.
_ Exatamente.
_ Não seria mais prático – sugeriu o visitante – reunir as duas funções num mesmo robô?
_ Imediatamente o visitante viu que tinha dito uma bobagem. O técnico sorriu com com condescendência.
_ Isso – explicou – seria um retrocesso.
_ Por quê?
_ Estaríamos de volta ao ser humano!
E o técnico sacudiu a cabeça, desanimado.
Decididamente, o visitante não entendia de futuro.
Luis Fernando Veríssimo.
Para muitos, voltar ao ser humano seria muito complicado, acostumamos a viver alheios às necessidades uns dos outros... é uma pena!
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